sábado, 10 de novembro de 2007

A Precoce dor das Crianças


Quem pode imaginar que por trás da tristeza ou da hiperatividade de uma criança se escondem sintomas de depressão? Nem os pediatras sabem disso e foi pensando na importância de esclarecer a situação que o psiquiatra José Ferreira Belizário, que atua no Centro Geral de Pediatria (CGP), realizou uma pesquisa sobre o assunto. O resultado é impressionante: 11% das crianças hospitalizadas têm depressão e outras 20% apresentam sintomas da doença. "Trata-se de um grau de sofrimento psíquico alto, que exige intervenção", alerta.
A pesquisa, que teve orientação dos professores Paulo Camargo, pediatra da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e Francisco Assunção, psiquiatra da Universidade de São Paulo (USP), faz parte da tese defendida por Belizário e aprovada pelo departamento de Pós-graduação em Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG.


SINTOMAS DEPRESSIVOS EM CRIANÇAS
As crianças tem dificuldades de expressar o que sentem mas sintomas psicossomáticos podem ajudar a definir estados de depressão. Compare:

Faixa etária
Sintomas psíquicos
Sintomas psicossomáticos
3 a 6 anos
Agitação e inibição
Choros e gritos em paroxismos (sem razão aparente), encoprese ( fazer cocô na calça, mesmo depois que aprendeu a fazer no banheiro), transtorno de sono e de apetite
7 a 9 anos
Irritabilidade, inseguraça, inibição, comportamento arredio, inibição na aprendizagem
Enurese (fazer xixi na cama mesmo depois que aprendeu a fazer no banheiro), terror noturno, manipulação genital, choros paroxísticos
9/10 a 13/14 anos
Sentimentos de inferioridade, impulsos suicidas, abatimento, meditação com tristeza
Cefaléia ( dores de cabeça )


Estresse tem Limite

O estudo comprova que "as crianças com doenças pulmonares e meningite, principalmente, têm três vezes mais chances de desenvolver sintomas de depressão do que outras portadoras das demais patologias". Pior é que esse quadro de sintomatologia depressiva agrava a própria doença ou provoca infecções secundárias, como infecções hospitalares.
Belizário esclarece que as crianças, assim como os adultos, têm um limite para suportar o estresse provocado diante de uma situação nova. Trata-se da chamada "resiliência", ou a capacidade de resistir e reagir. O termo vem da Física e, para entender melhor; o psiquiatra compara com uma bolinha de borracha que murcha quando pressionada e volta ao normal quando a pressão é relaxada.
A resiliência traz em si um dos fatores importantes para o controle do estresse e suas repercussões no sistema imunológico. "O estresse, quando persiste, provoca uma baixa no sistema imunológico, responsável pela defesa do organismo", afirma.
Os pediatras, na opinião de Belizário, ainda não estão atentos ao drama. "Não existe mais o estudo da saúde mental na formação do profissional pediatra", condena. Além disso, os médicos estão sempre sobrecarregados por "muitos problemas clínicos". E exemplifica: "Atendendo no CGP uma criança de 5 anos de idade com um quadro de desnutrição gravíssimo e todos pensávamos em como poder salvá-la. Ninguém havia percebido que ela apresentava sintomas de depressão precoce ( a chamada depressão anaclítica ). Ela estava morrendo e ia ser submetida a cirurgia para reposição de nutriente", conta.
Belizário prossegue, ressaltando a importância da paciente ter recebido a atenção de uma equipe multidisciplinar – pediatria, fisioterapia e saúde mental. "Foi aí que percebemos um problema grave na família. A criança foi um bebê rejeitado na gravidez e, quando a gestação foi aceita, ao invés de nascer um menino, como desejava a família, veio uma menina. Não havia vínculo com a criança. A mãe demonstrou momentos de zelo extremado e outros de ausência completa", diz.
Com o tratamento da criança em sessões de terapia familiar e fisioterapia, a menina recuperou seu desenvolvimento e nem necessitou mais da cirurgia. Hoje, ela está até freqüentando a escola, como qualquer criança. Mas, nem todos os casos tem o mesmo final feliz.

Texto extraído do site http://www.sosdepressao.com.br
Rosane Silveira

Um comentário:

Unknown disse...

Está se tornando freqüente a discussão em torno da problemática da depressão na infância.

É assustador o número de crianças que entram nesse estado d’alma, preocupante.

Mas, embora se tente descobrir as causas geradoras desse mal, e se levantem várias questões em sobre o assunto, o problema continua.

Para um observador atento, talvez não seja difícil detectar as possíveis raízes do problema.

É que, envolvidos na agitação da sociedade atual, os pais e demais familiares têm esquecido de dar a devida atenção aos pequeninos.

De forma geral, eles são relegados a segundo plano na ordem das prioridades.

Em primeiro lugar, vem a ocupação com os recursos financeiros que garantam a sustentação física da família. E essa preocupação absorve a tal ponto os pais, que muitas vezes os infantes são atropelados ao invés de conduzidos com amor e carinho.

É comum observarmos os pequenos no banco traseiro do automóvel ou na janela do ônibus escolar, de rostinhos melancólicos olhando para o nada, como se estivessem absorvidos por profundos questionamentos.

Se pudéssemos ouvir seus devaneios, talvez escutássemos suas angústias íntimas:

Por que tenho que sair do meu lar aconchegante e ir ter com pessoas que nem conheço?

Por que preciso deixar meus brinquedos e ir brincar com aquelas outras crianças que querem tomar os meus e não deixam eu brincar com os delas?

Será que a tia não vai brigar comigo? Será que algum menino maior que eu não vai me bater? Será que vai entrar um assaltante na escola e vai me roubar?

E que tal se, quando eu voltar para casa, toda minha família tenha sumido, ido embora? Ou então, será que minha mãe vai lembrar de me buscar no final da aula?

Para o adulto, que vive uma realidade diferente da da criança, tudo isso parece pueril, mas para ela é motivo de inquietação e angústia.

Hoje em dia, movidos pelo desejo sincero de prevenir as crianças contra os males das drogas e da violência, talvez tenhamos jogado uma carga demasiado grande de pavores sobre essas almas ainda frágeis.

No lar, muitas delas convivem diariamente com a brutalidade e a violência dos jogos eletrônicos, sem maturidade para separar o que é ficção do que é realidade.

E, um dia, elas saem do lar e partem para um mundo diferente do seu, cheias de medos e inseguranças.

Além disso, carregam, nas profundezas da alma, traumas e conflitos de outras existências, pois não podemos esquecer de que nossas crianças são espíritos reencarnados.

Considerando isso tudo, se realmente desejamos ajudar nossos filhos, busquemos entendê-los melhor. Procuremos penetrar no seu mundo e oferecer-lhe o amparo e a proteção de que tanto necessitam.

Socorramos nossos pequenos que rogam, muitas vezes através da rebeldia, nossa atenção e carinho, para que possam caminhar com segurança nesse mundo turbulento e assustador para muitas delas.

Pense nisso!

Não espere que seu filho mostre sintomas de depressão, observe-o e ampare-o sempre.

Repense as atividades que lhe são impostas e verifique se não o estão sobrecarregando, vergando suas estruturas psicológicas ainda frágeis.

Muitas vezes, com o intuito de preparar nossos filhos para o mundo competitivo de hoje, esquecemos de considerar aspectos importantes do seu psiquismo, principalmente as suas tendências e aptidões.

É importante que nos questionemos sobre o que é mais importante: instruir muito bem o homem, ou formar o homem de bem.

Pensemos nisso!